Em 27 de março, como informamos oportunamente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa) publicou uma resolução que determinava a proibição cautelar de todos os lotes do creme dental Colgate Total Clean Mint que contivesse em sua formulação a substância fluoreto de estanho, um agente de cuidado bucal.
A decisão da agência sanitária brasileira foi tomada como “resultado de uma avaliação de riscos” e “diante da ocorrência de um número significativo de efeitos indesejáveis associados ao uso do produto”, que em julho de 2024 havia sido lançado “com uma nova formulação”.
O creme dental sofreu uma mudança em sua fórmula em julho de 2024, quando o fluoreto de sódio foi substituído pelo fluoreto de estanho como ingrediente ativo.
Desde então, usuários relataram “lesões bucais, sensações dolorosas, sensações de ardor/queimação, inflamação das gengivas e edema labial”. Segundo publicado na época pela Anvisa, “esses sintomas afetaram significativamente a qualidade de vida dos consumidores, resultando em alguns casos em custos médicos, ausências no trabalho, dificuldades para comer e se comunicar e angústia emocional”.
Naquele momento, a Colgate recorreu e conseguiu suspender temporariamente a medida, e a venda foi retomada em 30 de março. No entanto, no final de junho, a Anvisa voltou a impor a proibição de venda devido ao alto número de relatos de reações. Até o final de maio, mais de 1.200 pessoas haviam relatado efeitos adversos.
Foi então que a empresa anunciou que descontinuaria —pelo menos temporariamente— o produto.
Até o momento, não foi demonstrado que o fluoreto de estanho seja o causador dos problemas de saúde, e investiga-se a possibilidade de que o problema esteja relacionado com aromatizantes à base de óleos essenciais, substâncias conhecidas por seu potencial alergênico, assim como corantes e outros aditivos utilizados para melhorar o sabor da fórmula.
O outro vizinho
Esta semana, a Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (Anmat) da Argentina proibiu a comercialização, distribuição e uso em todo o território argentino do creme dental Colgate Total Active Prevention Clean Mint, após registrar “múltiplos relatos de eventos adversos associados ao seu uso”.
Até 7 de julho, a própria Colgate havia registrado 19 relatos na Argentina, aos quais se somaram outros dois, informados pelo sistema de cosmetovigilância da Anmat. Os efeitos relatados incluem aftas, ardor, bolhas, inflamação, dor e outras formas de irritação na cavidade oral.
A fórmula, origem e planta de fabricação de ambas as versões —a brasileira e a argentina— são idênticas, o que fortaleceu a decisão de agir preventivamente.
E por aqui?
Após a medida adotada em março no Brasil, Montevideo Portal comprovou que o creme dental Colgate Total Clean Mint é vendido no Uruguai, e que também contém fluoreto de estanho.
Ontem, diante de uma consulta do jornal El Observador, fontes do Ministério da Saúde Pública (MSP) indicaram que o ministério está ciente da situação. No entanto, não se contemplam medidas no momento.
Concretamente, aguarda-se a resposta da Direção Geral de Saúde Ambiental (Digesa), cujo Departamento de Alimentos e Cosméticos “teve reuniões e está acompanhando o tema”. Até o momento, esse acompanhamento não resultou em nenhuma ação concreta.
“Pode ser para um lado ou para o outro”
A Diretora Geral de Saúde, Fernanda Nozar, comentou na tarde de terça-feira sobre a situação.
Em uma breve coletiva de imprensa registrada pelo Telenoche, a diretora explicou que a Digesa “se reuniu com a empresa envolvida, analisando se existem ou não relatos locais”, e que tomou nota “da conclusão dos países vizinhos”.
Agora está sendo elaborado um relatório técnico, e Nozar estima que ainda nesta quarta-feira o MSP emitirá um comunicado sobre o assunto.
Questionada sobre se o produto será proibido, como fizeram Brasil e Argentina, Nozar explicou que aguarda “a conclusão do relatório técnico” e que, dependendo do resultado, a decisão “pode ser para um lado ou para o outro”.