Um estudo preliminar do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) acendeu o debate acadêmico ao sugerir que os estudantes que usam inteligência artificial generativa como o ChatGPT produzem textos menos reflexivos e com menor atividade cerebral. Embora suas descobertas ainda sejam provisórias e não tenham sido revisadas por pares, mais de 3.000 professores já entraram em contato com os pesquisadores, alertados por uma problemática cada vez mais visível nas salas de aula.

A pesquisa dividiu 54 estudantes da região de Boston em três grupos, de acordo com o tipo de assistência tecnológica: ChatGPT, motores de busca ou nenhum recurso externo. Os resultados mostraram que aqueles que utilizaram IA obtiveram as piores notas e demonstraram menor conexão entre áreas cerebrais durante a escrita, além de serem incapazes, na maioria dos casos, de lembrar o que haviam escrito.

Para Jocelyn Leitzinger, professora na Universidade de Illinois, os resultados coincidem com sua experiência: mais da metade de seus 180 estudantes usaram o ChatGPT de forma inadequada, inclusive em tarefas que exigiam narrativas pessoais sobre discriminação. “Eles nem sequer escreviam sobre suas próprias vidas”, lamentou.

Os professores que corrigiram os textos também identificaram uma tendência: as redações geradas com IA eram gramaticalmente corretas, mas careciam de “alma”, criatividade ou profundidade crítica.

No entanto, alguns especialistas pedem cautela. Ashley Juavinett, neurocientista da Universidade da Califórnia em San Diego, alerta que o estudo carece de base suficiente para concluir que a IA prejudica a cognição humana. Mesmo os próprios autores do estudo reconhecem que a amostra é limitada e pedem mais pesquisas para entender como usar essas ferramentas de forma pedagógica.

A comparação com a introdução das calculadoras nas salas de aula é inevitável. Como naquela época, os métodos de ensino terão que se adaptar. Mas Leitzinger expressa uma preocupação mais profunda: que os estudantes usem a IA sem terem adquirido as habilidades básicas de escrita e pensamento crítico. “Escrever é pensar; pensar é escrever. Se eliminarmos esse processo, o que resta do pensamento?”, questiona ela.

Com informações da AFP